O que uma viagem perdida, um telefonema inesperado, um antigo relacionamento, cigarros e um estranho num banco de rua tem a ver com crime celestial? Só posso dizer que tais elementos, aparentemente desconexos, amarram brilhantemente uma história de investigação divina.
Instigado pelo sempre cativante nome “Neil Gaiman” na capa de um livro ou de uma história em quadrinhos, recentemente tive a oportunidade de ler a adaptação de P. Craig Russel do conto Mistérios Divinos (Murder Mysteries) para os quadrinhos, conto este originalmente publicado no livro Fumaça e Espelhos: Contos e Ilusões.

Para o leitor que procura grandes narrativos o álbum pode enganar (a versão da Devir é primorosa, faltando apenas alguma informação bibliográfica para os mais desavisados – eu não lembrava que tinha sido o Sr. Russel quem ilustrou uma das minhas HQs preferidas: Elric, de Michael Moorcock), pois tem um volume pequeno – eu mesmo, como bom nerd que adoro ler toneladas de páginas, especialmente quando a arte é boa e a história é envolvente, subestimei o seu poder...
O que começa como fragmentos de uma memória que custa a lembrar dos acontecimentos (tudo começa com uma lembrança de 10 anos atrás, um jovem inglês perde um vôo dos EUA de volta para a Ingleterra, e o texto certamente nos faz lembrar do esforço que fazemos para lembrar de coisas ocorridas muito tempo atrás) transforma-se, ao final, em uma narrativa investigativa construída e costurada da maneira como apenas Neil Gaiman sabe fazer.
Após perder o vôo, pelo mau tempo, encontrar um antigo relacionamento, o jovem se depara com um misterioso homem que lhe pede um cigarro. O jovem, como compensação pelo cigarro, ouve a história do primeiro sangue derramado no Paraíso, mais especificamente na Cidade de Prata.
A história dentro da história mostra a investigação realizada pelo Anjo Raguel, A Vingança do Senhor, para descobrir o culpado (e, obviamente, puni-lo). Quem indicou Raguel para tanto? Um dos preferidos de Deus: o anjo Lúcifer.
Com desenhos que trazem o ambiente da história de forma surpreendente, especialmente, vale lembrar que nada é tão simples como parece: o desenlace certamente afetará todos, com profundas transformações na ordem da realidade.
O álbum pode ser encontrado em qualquer comic shop ou livraria virtual e merece ser lido - e não deve em nada para o conto original, pois apenas detalhes são levemente trabalhados pelo adaptador para melhor contar a história no formato.
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Agradeço ao Marcelo Telles - esta resenha me rendeu uma vaga no REDERPG.COM.BR como redator de HQ/Mangá